66º Aniversário da Fundação Espírita Rodolfo Teófilo
A CONTURBADA FUNDAÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA RODOLPHO
THEÓFILO
Atualmente, Fundação Espírita Rodolfo Teófilo - FERT
Primeira sede da USEECE
O EPISÓDIO REGISTRADO PELA IMPRENSA
O
Padre José Terceiro de Sousa inicia uma série de problemas e conflitos com o Dr. Júlio Maciel, Juiz
de Direito da Comarca, relacionados à fundação do centro espírita na sede do
município, fato que foi amplamente divulgado pelo jornal Gazeta de Notícias de
Fortaleza, na capital do Estado, no dia 15 de janeiro de 19 48.
“Como já é do conhecimento
público, fundou-se na cidade de Russas, deste Estado, dia 10 do corrente, por
feliz iniciativa do integro Juiz de Direito Dr. Júlio Maciel, o “Centro Espírita
Rodolfo Teófilo” de Russas. No mesmo dia para aquela solenidade de caráter
espiritual e jurídico, que satisfez, intrinsecamente, as exigências das leis
constituídas do País, em seus dispositivos legais, partiu desta capital
fraternalmente convidada, uma luzida caravana, constituída de representantes de
entidades espíritas federalizadas, de jornalistas e demais pessoas gradas. Mas,
infelizmente, podemos afirmar que Russas, foi, mais uma vez, para vergonha de
seus ilustres filhos, naquele dia funesto, teatros de vis perseguições e de
desmoralizações às normas das sagradas verdades cristãs, por parte,
naturalmente, de indivíduos conhecidos como inescrupulosos e velhacos, que por
um desses caprichos do destino, residem naquela e em outras terras hospitaleiras
e dignas, para as desrespeitar e explorar. São eles nossos irmãos espirituais
atrasados.”
O
estabelecimento de um grupo de confissão espírita em Russas, algo estranho para
uma comunidade tradicionalmente católica, causou um grande choque para a
liderança romana da paróquia.
A
instalação do Centro Espírita Rodolfo Teófilo aconteceu na residência do Dr.
Júlio Maciel, que era situada na Praça Monsenhor João Luis, nº 245, no centro
de Russas.
Praça Monsenhor João Luis,
Sobre
esse assunto, em 15
de janeiro de 19 48, a Gazeta de Notícias de Fortaleza nos traz a
seguinte informação:
“A instalação do Centro Espírita
Rodolfo Teófilo, de Russas, realizou-se na residência do ilustrado Dr. Júlio
Maciel, Juiz de direito da comarca, fazendo-se presentes muitas famílias de
Russas e de Fortaleza, diversas representações de sociedades espíritas, sendo a
ata de instalação assinada pelo dinâmico Dr. Carlos Furtado Lobo, Dr. Júlio
Maciel e cidadãos Eugênio Francisco de Sousa e senhora, Izaias Ponte, Antônio
Domingos da Silva, José Elias Maia Perdigão, Manuel Anselmo da Silva, José
Elias Correia, Francisco Sousa Lima, Mario Milton Torres Ferreira, Raimundo
Nunes da Silva, Valter Vieira Leitão, Anderson Gonçalves...”
Diante desse impasse, segundo o periódico da época, o Padre José Terceiro intolerantemente, resolveu reunir um grupo de pessoas de sua comunidade para irem à residência do juiz no intuito de apedrejarem a casa aonde seriam feitas as reuniões kardecistas.
Padre José Terceiro
Como
resultado desse triste episódio, ainda segundo a matéria do jornal Gazeta de
Notícias de Fortaleza, algumas pessoas saíram machucadas nesse infeliz
acontecimento.
“Foi um quadro desolador o que se
verificou naquele momento: uma multidão de assalariados, munidos de pedras, de
paus, armados, tendo na mão muitas latas de gás vazias, vaiou, não só os
caravaneiros da “Terceira Revelação”, como também apedrejaram barbaramente, em
frente à porta da residência do Juiz de direito Dr. Júlio Maciel, cuja sala de
visita ficou grossa de pedras, atiradas pela massa inconsciente, submissa às
ordens de pessoas atéias, maléficas e irresponsáveis, deleitando-se com a
pancadaria ensurdecedora que se estabeleceu, sem nenhuma garantia policial, em
meio à praça pública. Saíram pessoas feridas, o que é desumano!”
No mesmo
dia, após esse evento, ainda não satisfeito, o Padre José Terceiro se dirigiu a
rádio paroquial e falou insidiosas injúrias contra os perseguidos, fazendo-se
necessário a intervenção das autoridades locais em favor dos espíritas. O
jornal Gazeta de Fortaleza, de 22 de janeiro de 19 48, ainda nos relata:
“No dia da inauguração do
referido centro, a irradiadora paroquial concitou o povo de Russa a não
permitir a dita inauguração, nem que para isso fosse necessário recorrer à
violência. (...) Além disso, o Sr. Vigário, aproveitando-se da sua irradiadora,
dirigiu insultos a todos os que se encontraram em Russas para assistir as
solenidades iniciais do Centro Espírita Rodolfo Teófilo, e seguidamente
continuou, no mesmo diapasão, procurando inutilmente atingir o integro Sr. Juiz
de direito da comarca. Os ânimos se exaltaram. As autoridades, solicitadas,
intervieram, sendo a irradiadora paroquial apreendida pelo órgão competente,
por infração aos dispositivos legais.”
Alguns
dias depois, segundo o mesmo periódico, de 22 de janeiro de 19 48, a trégua durou
pouquíssimo tempo, assim que re-obteve a posse da irradiadora paroquial o Padre
José Terceiro continuou a usá-la para difamar o centro espírita.
“Infelizmente aquela interdição
foi de curta duração, não produzindo assim os efeitos desejados e permitindo
que o Sr. Vigário de Russas, novamente de posse de sua irradiadora, voltasse
agora, numa demonstração de desequilíbrio mental e falta de noção de
responsabilidade do seu cargo, com mais calor e agressividade, a insultar
aqueles que professam em Russas um culto diferente do seu.”
Esse episódio teve
bastante repercussão, e muitas foram às tentativas do Padre José Terceiro de
impedir o funcionamento do Centro Espírita em Russas. Mas estava na
constituição de 1908 que a prática do Espiritismo não era crime. Relatado num
folheto, escrito por Lúcio Várzea, para a fundação do Centro Espírita Rodolfo
Teófilo, no dia 17
de junho de 19 48.
A constituição garante a
liberdade de conciência e de associação e reunião; portanto, a simples prática
do Espiritismo não constitue crime algum, pelo contrário têm os crentes desta
doutrina, para a Lei Constitucional, precisamente os mesmos direitos que ao
exercício de seu culto ela assegura aos sectários de outra qualquer crença.
(Sentença do juiz da 1ª Vara Criminal, confirmada por acordam de 18 de janeiro de 19 08
do Cons. Da Corte de Apelação).
O atentado ao grupo espírita de Russas repercutiu longe dos arraiais da
cidade. A revista “A Centelha”, de São Paulo, na edição de março de 1948,
divulgou:
“(...) Não pretendemos convencer o
desavisado vigário de Russas de seu estranho procedimento, tão alheio às
finalidades de seu ministério, mas desejamos que fique registrado o nosso
protesto contra o inqualificável e primitivo processo usado, muito comum entre
pessoas rudes, acostumadas a vencer pela força bruta, pela violência, mas
incompatíveis em quem se anuncia intérprete das virtudes cristãs! E, aos
numerosos, dignos e abnegados confrades de Russas, a nossa homenagem pelo seu
comportamento exemplar, recordando-se a expressão caridosa de Cristo, quando do
madeiro lançou um olhar piedoso para a turba que o molestava e exclamou: “Pai,
perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!”.
Ainda
sobre o episódio, “A Centelha”, de junho do mesmo ano, transcreveu trecho de
uma carta de Júlio Maciel endereçada à redação, através da qual ele dizia:
“(...) O apodrejamento do Centro Espírita Rodolpho Theófilo foi, até então, o único título desse pobre irmão em Cristo perante a Igreja Romana que, logo após o delito, agraciou o apagado vigário de Russas, nomeando-o bispo de Caiteté, no Estado da Bahia. (...) Este é o prêmio da Terra, mas quanto terá de sofrer no Espaço o rancoroso sacerdote! (...) Que o Pai se compadeça de sua alma.”
“(...) O apodrejamento do Centro Espírita Rodolpho Theófilo foi, até então, o único título desse pobre irmão em Cristo perante a Igreja Romana que, logo após o delito, agraciou o apagado vigário de Russas, nomeando-o bispo de Caiteté, no Estado da Bahia. (...) Este é o prêmio da Terra, mas quanto terá de sofrer no Espaço o rancoroso sacerdote! (...) Que o Pai se compadeça de sua alma.”
O
Padre Terceiro desencarnou em Fortaleza na manhã de 14 de julho de 1983 , aos 75
anos.
Padre José Terceiro o primeiro a esquerda em Sobral no ano de 1955
Júlio Barbosa Maciel, regressou ao Mundo Maior, no dia 8 de fevereiro de 19 67,
aos 79 anos incompletos.
QUEM FOI RODOLFO TEÓFILO
Rodolfo
Marcos Teófilo foi
um Grande benemérito no Ceará, onde viveu toda a vida, nasceu o contista,
romancista, poeta e documentarista, um dos maiores expoentes da literatura
regional-naturalista brasileira, na Bahia, em 6 de maio de 1853. Filho e
bisneto de médicos, cedo ficou órfão, tendo de trabalhar como caixeiro para o
próprio sustento e foi para o Ceará com apenas 15 dias de idade. Voltou à Bahia
e Formou-se em Farmácia em 1875, pela Faculdade de Medicina da Bahia.
Participou ativamente da campanha abolicionista no Ceará, primeira província
brasileira a declarar livres os seus escravos. Foi Padeiro-Mor (presidente) da
Padaria Espiritual, em sua terceira gestão. Autor de diversos livros,
dedicou-se aos mais diferentes gêneros. A partir de 1900, até o final da vida
Empreendeu uma batalha pessoal contra a varíola, lutando contra o medo da
vacina, sem recursos, em tempo de seca, fome, da migração em massa e em
péssimas condições de higiene. Sem apoio do poder público, enfrentou
praticamente sozinho, em duas oportunidades, epidemias de varíola que vitimou
milhares de pessoas em Fortaleza e interior do Ceará, no final do século XIX e
início do século XX. A cólera vitimou quase um terço dos seis mil habitantes de
Maranguape, cidade nas cercanias de Fortaleza (1862) e no final da década
seguinte (1878), a varíola matou um quinto da população da capital cearense.
Depois de assistir o descaso da administração pública frente à grande epidemia
de varíola (1878), decidiu iniciar uma campanha de vacinação contra a doença.
Aprendeu a fabricar a vacina e passou a vacinar o povo (1901) com ajuda de sua
mulher e um criado. Montado em um cavalo, cuidou sozinho da vacinação em massa
pelos bairros pobres de Fortaleza durante os três primeiros anos do século XX.
A única limitação à sua filantropia foi a falta de recursos e infra-estrutura,
problema que tentou contornar criando uma pequena indústria, cujos lucros foram
utilizados para a construção de uma instituição específica que chamou de
“Vacinogênio Rodolpho Teophilo”. Somente mais tarde criaria a Liga Cearense
Contra a Varíola, contando então com voluntários em praticamente todo o
interior do estado na luta contra a doença. Vacinou próximo de duas mil pessoas
(1902), não sendo registrado nenhum caso de varíola na capital cearense naquele
ano. Por causa disso, foi perseguido durante o governo de Antônio Pinto
Nogueira Accioli, do qual era opositor, acusado de desmoralizar a autoridade
que estava totalmente alheia ao sofrimento do povo cearense. Obstinado ainda
encontrou tempo para escrever 28 livros, aderir à causa abolicionista e
militante na Padaria Espiritual, uma espécie de agremiação literária que, pelo
comportamento irreverente de seus membros, antecipou o modernismo no Brasil.
Embora pouco se conheça publicamente do seu trabalho, como escritor foi o
introdutor do Realismo/Naturalismo no Ceará com a obra A Fome (1890), seu
romance de estréia e o primeiro romance cearense publicado em forma de livro,
pois até então os romances eram publicados através de folhetins. Foi membro
fundador da Academia Cearense de Letras. É considerado um dos principais
expoentes da literatura regional-naturalista do Brasil e um dos maiores nomes
da literatura do Ceará. Em sua homenagem, o Centro Acadêmico de Farmácia da
Universidade Federal do Ceará tem o seu nome. Faleceu dia 2 de julho de 1932,
em Fortaleza, aos 79 anos. Segundo Rachel de Queiroz, a ele se deve a "invenção"
da cajuína bebida não-alcoólica popular no nordeste.
CRÉDITOS:
Pesquisa elaborada por: André Luiz Bezerra Borges dos Santos
Imagens e textos:
Arquivo Pessoal
Memórias do Espiritismo, Luciano Klein Filho
http://pt.wikipedia.org/wiki/Russas
http://russas.ce.gov.br/sobre-russas/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rodolfo_Te%C3%B3filo
http://dc357.4shared.com/doc/Gjc-Bfsn/preview.html
Comentários
Postar um comentário