Rivail Maçom?

 


Seguem uma seleção de textos extraídos de autores que discutiram a questão proposta nesta página - Rivail Maçom? Será enriquecido com imagens e citações para enriquecimento e melhor apreciação da matéria.

Texto 1
Rivail maçom?
Autores: Zêus Wantuil e Francisco Thisen - Obra: Allan Kardec

Querem alguns biógrafos que Rivail pertenceu a franco­maçonaria, "ainda que nenhum traço de sua iniciação tenha sido descoberto", conforme ressalvou Jean Vartier. Tudo porque na sua obra espírita se encontram termos e expressões maçônicas, como "Grande Arquiteto" (que é imitação de Platão), e, mais amiúde, "tolerância", "liberdade", "igualdade", "solidariedade", etc.


Com esse raciocínio, ninguém deixaria de ser maçom, inclusive o nosso Padre Antônio Vieira, que igualmente usou, no século XVII, a expressão "Supremo Arquiteto" como sinônimo de Deus.

    Consideramos, assim, bastante insuficientes essas alegações, e mais: se na França daquela época todo mundo era maçom (91), logicamente se achavam muito disseminadas a linguagem e as ideias maçônicas. E Rivail, como é natural e compreensível, poderia ou deveria ter sofrido a influência do pensamento maçônico.

Parece que a primeira pessoa a maçonizar Rivail teria sido Mme. Claude Varèze, em sua obra "Les Grands Illuminés" (Paris, 1948), e foi mais longe: afirmou que ele se iniciara na maçonaria martinista por intermedio do lionês Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824), discípulo do fundador Martines de Pasqually (1727-1774). Este místico, filho de gentil-homem frances de origem portuguesa, nascido em Grenoble, teve também outros seguidores ilustres, como Louis-Claude de Saint­Martin. Nas lojas martinesistas, os maçons altamente graduados se punham em comunicação com os seres invisíveis, que, no entender deles, nao eram senão os chamados anjos das igrejas.


Notas do blog:

1 - Como pode ser observado, na capa da obra da escritora francesa Claude Varèze, o nome de sua obra é ALLAN KARDEC e não "Les Grands Illuminés", que na verdade é o nome da coleção, Vida dos Grandes Iluminados. Ao lado a tradução para o italiano.

2 - No Brasil é conhecida como Lojas Martinistas. Segue o link para o site oficial do Martinismo no Brasil.


        Willermoz mantivera correspondência epistolar com Pasqually, Joseph de Maistre, Saint-Germain, Cagliostro, Savalette de Lange e outros notáveis místicos e ocultistas da época.
L.-C. de Saint-Martin (1743-1803)

       Segundo Rene Le Forestier (92), Willermoz "foi um desses magnetizadores espiritualistas que acreditaram encontrar no sonambulismo provocado o meio de comunicação com o mundo supra-sensivel". Realizavam-se nas lojas martinistas e willermozistas, em salas convenientemente preparadas, verdadeiras sessões espíritas, nas quais manifestações físicas e inteligentes do Além coroavam as reuniões dos irmãos "eleitos".

Nota do blog:


René Le Forestier (1868-1951) é um ensaísta francês especializado no estudo da relação entre a Maçonaria e o ocultismo, em França, mas também na Alemanha (nomeadamente com os “Iluminados da Baviera”).

Em razão, talvez, de tudo o que expomos e que Mme. Claude Vareze se adiantara em estabelecer uma ligação entre Rivail e Willermoz, ligação que Jean Vartier contraria frontalmente, demonstrando a sua inaceitabilidade (93) e reconhecendo na autora excesso de imaginação. Todavia, Vartier não acha improvável que Rivail tenha tido formação maçônica, e pergunta se ele não teria sido obscuro irmão de uma loja ao mesmo tempo deísta e iluminista (94), ressaltando, no entanto, como o faz A. Moreil, que o ilustre pedagogo francês renunciara aos formalismos e simbolismos e a todo o aspecto ritual e secreto da maçonaria.

Recentemente, o fascículo 58 da coleção "As Grandes Religiões", publicada por Abril Cultural S. A., de S. Paulo, registou na margem da página 916 que Rivail, antes de vir a ser o Codificador do Espiritismo, pertencera a Grande Loja Escocesa de Paris. 0 ilustre confrade Dr. Canuto Abreu investigou o assunto e foi informado de que o autor daquela nota é o Prof. Dr. G. Mandelo, da Universidade de Turim (Itália), especialista em história de religiões e seitas. O referido fascículo chegou a estampar, em página inteira, os paramentos maçônicos que Rivail teria usado(?), fotografados, segundo a mesma publicação, na Sociedade dos Direitos Humanos, de Paris.

Notas do blog:

A seguir as imagens e textos extraídos do fascículo 58 da coleção "As Grandes Religiões" publicada em 1973 pela Abril Cultural.


Texto original do fascículo: "Antes de se tornar o codificador do Espiritismo, Allan Kardec iniciou-se na maçonaria e pertenceu à Grã-Loja Escocesa de Paris. Vem daí, talvez, a profunda influência dos princípios maçônicos sobre a doutrina do Kardecismo. No Brasil, essa identidade aproximou bastante as duas correntes, tanto que grande número de adeptos da maçonaria são espíritas. Bezerra de Menezes teria afirmado que a maçonaria é um dos maiores centros de divulgação do Kardecismo. Na página ao lado (foto acima), paramentos maçônicos pertencentes a Allan Kardec; Sociedade dos Direitos Humanos de Paris.".

A nosso ver, porém, e escudados na longa e afanosa pesquisa que fizemos, inclusive nas coleções da "Revue Spirite", apenas existiu, entre Rivail e maçonaria, afinidade de princípios e ideais, sem jamais haver ele ingressado em loja alguma. E certo que sempre viu com simpatia a franco-maçonaria, mas isto não implica nem prova qualquer adesão oficial da parte dele.

Amigos maçons, alguns íntimos, ele os teve, antes e depois de codificar a Doutrina Espirita. A "Revue Spirite" de 1881, p. 101, cita, por exemplo, o nome de J. P. Mazaroz, autor de várias obras sobre a franco-maçonaria e cuja grande preocupação fora a reivindicação dos direitos do trabalhador.

Em 25 de fevereiro de 1864, estando presentes na Sociedade Espírita de Paris vários maçons estrangeiros (inclusive maçons espíritas), Rivail (Kardec) pergunta aos Espíritos acerca da cooperação que o Espiritismo pode encontrar na franco-maçonaria. Em três mensagens recebidas por médiuns diferentes, foi-lhe respondido que a doutrina espírita pode perfeitamente vincular-se as das grandes lojas do Oriente, e vice-versa, exatamente porque o Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e caritativas da maçonaria, porque ele sanciona as crenças por ela professadas, fornecendo provas insofismáveis da imortalidade da alma, e, afinal, porque ele conduz a Humanidade ao mesmo fim que ela (maçonaria) se propõe: a união, a paz, a fraternidade universal, ela em Deus e no porvir (95).

Na verdade, as relações entre espíritas e maçons sempre foram as melhores possíveis, tanto assim que, em 1889, a abertura do Congresso Espírita e Espiritualista Internacional, em Paris, se deu precisamente no salão de festas do Grande Oriente da França, onde Jules Lermina foi empossado como presidente do mesmo Congresso.

________

(91) Andre Moreil, ob. cit., p. 95.

(92) Rene Le Forestier: "La Franc-Maçonnerie Templiere et Occultiste aux XVIII e et XIX e siecles", publie par Antoine Faivre (Aubier-Montaigne, Paris vre, et Jl'lditions Nauwelaerts, Louvain), 1970, p. 277.

(93) Jean Vartier, ob. cit., pp. 114 a 116 e 151.

(94) Id., ib., p. 35.

(95) "Revue Spirite", 1864, pp. 123/28.



Texto 2
Revista Espírita de Abril de 1864
Autor: Astolfo O. de Oliveira Filho

Ao que nos consta, as referências aos maçons e à Maçonaria aparecem na obra de Kardec somente na Revista Espírita, na edição de abril de 1864. Foram três comunicações: a primeira, firmada pelo Espírito de Guttemberg; a segunda, por Jacques de Molé; a terceira, por Vaucanson.

Em todas elas são destacadas as afinidades existentes entre os princípios defendidos pela franco-maçonaria e os ensinamentos espíritas.


Notas do blog:

Johannes Gutenberg (1394–1468), inventor e tipógrafo alemão.
Responsável pelo início da Revolução da Imprensa com sua
invenção do tipo mecânico móvel para impressão.
Com o título 
O Espiritismo e a franco-maçonaria
(Sociedade Espírita de Paris, 25 de fevereiro de 1864)
Nota – Nesta sessão foram dirigidos agradecimentos ao
Espírito Gutenberg, com o pedido de tomar parte em nossas conversas,
quando julgasse conveniente.

Na primeira, Guttemberg afirma que todo maçom iniciado é levado a crer na imortalidade da alma e no Divino Arquiteto e a ser benfeitor, devotado, sociável, digno e humilde. Ali se pratica a igualdade na mais larga escala, havendo, pois, nessas sociedades uma afinidade evidente com o Espiritismo. Lembrando que muitos maçons são espíritas e trabalham muito na propaganda desta crença, Guttemberg previu que no futuro o estudo espírita entraria como complemento nos estudos abertos realizados nas lojas maçônicas.

Jacques de Molé ou Molay

Jacques de Molay, por vezes também chamado Tiago de Molay (1245-1314), foi um religioso e militar francês, e o último grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários.

Na segunda mensagem, Jacques de Molé diz que as instituições maçônicas foram para a sociedade um encaminhamento à felicidade. Numa época em que toda ideia liberal era considerada crime, os homens precisavam de uma força que, submissa às leis, fosse emancipada por suas crenças, suas instituições e a unidade de seu ensino. “Nessa época - diz Molé - a religião ainda era, não mãe consoladora, mas força despótica que, pela voz de seus ministros, ordenava, feria, fazia tudo curvar-se à sua vontade; era um assunto de pavor para quem quisesse, como livre pensador, agir e dar aos homens sofredores alguma coragem e ao infeliz algum consolo moral.” Concluindo, Jacques de Molé profetiza: “O Espiritismo fez progressos, mas, no dia em que tiver dado a mão à franco-maçonaria, todas as dificuldades estarão vencidas, todo obstáculo retirado, a verdade estará esclarecida e o maior progresso moral será realizado e terá transposto os primeiros degraus do trono, onde em breve deverá reinar”.

Na terceira mensagem, o Espírito de Vaucanson, que se designa ainda franco-maçom, observa que Guttemberg foi contemporâneo do monge que inventou a pólvora – invenção essa que transformou a velha arte das batalhas –, enquanto a imprensa trouxe uma nova alavanca à expressão das ideias, emancipando as massas e permitindo o desenvolvimento intelectual dos indivíduos. A franco-maçonaria, contra a qual tanto gritaram, contra a qual a Igreja romana não teve anátemas em quantidade suficiente, e que nem por isso deixou de sobreviver, abriu de par em par as portas de seus templos ao culto emancipador da ideia. “Em seu seio - afirma Vaucanson - todas as questões mais sérias foram levantadas e, antes que o Espiritismo tivesse aparecido, os veneráveis e os grão-mestres sabiam e professavam que a alma é imortal e que os mundos visível e invisível se intercomunicam.” Segundo Vaucanson, o Espiritismo encontrará no seio das lojas maçônicas numerosa falange compacta de crentes, sérios, resolutos e inabaláveis na fé, porque o Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e caridosas da franco-maçonaria; sanciona as crenças que esta professa, dando provas irrecusáveis da imortalidade da alma; e conduz a humanidade ao objetivo que se propõe: união, paz, fraternidade universal, pela fé em Deus e no futuro.

     Percebe-se, à vista do conteúdo das mensagens acima, por que o clima entre o Espiritismo e a franco-maçonaria sempre foi cordial e – o mais importante – por que ambos foram, historicamente falando, as vítimas preferenciais das religiões dominantes, que nunca se conformaram com o progresso das ideias, a liberdade de crença e a emancipação de quem jamais se dobrou à sua vontade e aos seus dogmas.

Ler textos na íntegra no link da Revista Espírita de 1864
O Espiritismo e a franco-maçonaria
(Dissertações I, II e III)

CRÉDITOS:
Pesquisa elaborada por:
André Luiz Bezerra Borges dos Santos
Crédito das imagens: Web Google
Referências bibliográficas:
Espiritismo, As Grandes Religiões, Fascículo 58, Abril Cultural, 1973.
Allan Kardec, Zêus Wantuil e Francisco Thisen - I volume - FEB
Astolfo O. de Oliveira Filho em resposta a uma pergunta de leitor em O Consolador
http://www.oconsolador.com.br/ano11/518/oespiritismoresponde.html

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