Rivail Maçom?
Rivail maçom?
Querem alguns biógrafos que Rivail pertenceu a francomaçonaria, "ainda que nenhum traço de sua iniciação tenha sido descoberto", conforme ressalvou Jean Vartier. Tudo porque na sua obra espírita se encontram termos e expressões maçônicas, como "Grande Arquiteto" (que é imitação de Platão), e, mais amiúde, "tolerância", "liberdade", "igualdade", "solidariedade", etc.
Com esse raciocínio, ninguém deixaria de ser maçom,
inclusive o nosso Padre Antônio
Vieira, que igualmente usou, no século XVII, a expressão
"Supremo Arquiteto" como sinônimo de Deus.
Parece que a primeira pessoa a maçonizar Rivail teria sido Mme. Claude Varèze, em sua obra "Les Grands Illuminés" (Paris, 1948), e foi mais longe: afirmou que ele se iniciara na maçonaria martinista por intermedio do lionês Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824), discípulo do fundador Martines de Pasqually (1727-1774). Este místico, filho de gentil-homem frances de origem portuguesa, nascido em Grenoble, teve também outros seguidores ilustres, como Louis-Claude de SaintMartin. Nas lojas martinesistas, os maçons altamente graduados se punham em comunicação com os seres invisíveis, que, no entender deles, nao eram senão os chamados anjos das igrejas.
Notas do blog:1 - Como pode ser observado, na capa da obra da escritora francesa Claude Varèze, o nome de sua obra é ALLAN KARDEC e não "Les Grands Illuminés", que na verdade é o nome da coleção, Vida dos Grandes Iluminados. Ao lado a tradução para o italiano.
Nota do blog:
Em razão, talvez, de tudo o que expomos e que Mme. Claude Vareze se adiantara em estabelecer uma ligação entre Rivail e Willermoz, ligação que Jean Vartier
contraria frontalmente, demonstrando a sua inaceitabilidade (93) e
reconhecendo na autora excesso de imaginação. Todavia, Vartier não acha improvável que Rivail tenha
tido formação
maçônica, e pergunta se ele não teria sido obscuro irmão de uma
loja ao mesmo tempo deísta e iluminista (94), ressaltando, no entanto, como o faz A. Moreil, que o ilustre pedagogo
francês renunciara aos formalismos e simbolismos e a todo o aspecto ritual e secreto da maçonaria.
Recentemente, o fascículo 58 da coleção "As Grandes Religiões", publicada por Abril Cultural S. A., de S. Paulo, registou na margem da página 916 que Rivail, antes de vir a ser o Codificador do Espiritismo, pertencera a Grande Loja Escocesa de Paris. 0 ilustre confrade Dr. Canuto Abreu investigou o assunto e foi informado de que o autor daquela nota é o Prof. Dr. G. Mandelo, da Universidade de Turim (Itália), especialista em história de religiões e seitas. O referido fascículo chegou a estampar, em página inteira, os paramentos maçônicos que Rivail teria usado(?), fotografados, segundo a mesma publicação, na Sociedade dos Direitos Humanos, de Paris.
Notas do blog:
A seguir as imagens e textos extraídos do fascículo 58 da coleção "As Grandes Religiões" publicada em 1973 pela Abril Cultural.
A nosso ver, porém, e escudados na longa e afanosa pesquisa
que fizemos, inclusive nas coleções da "Revue Spirite",
apenas existiu, entre Rivail e maçonaria, afinidade de princípios e ideais, sem
jamais haver ele ingressado
em loja alguma. E certo que sempre viu com simpatia a franco-maçonaria, mas
isto não implica nem prova qualquer adesão oficial da parte
dele.
Amigos maçons, alguns íntimos, ele os teve, antes e
depois de codificar a Doutrina Espirita.
A "Revue Spirite" de 1881, p.
101, cita, por exemplo, o nome de J. P. Mazaroz, autor de
várias obras sobre a franco-maçonaria e cuja grande preocupação fora a reivindicação dos direitos do trabalhador.
Em
25 de fevereiro de 1864, estando presentes
na Sociedade Espírita de Paris vários
maçons estrangeiros (inclusive maçons espíritas),
Rivail (Kardec) pergunta aos Espíritos acerca da cooperação que o Espiritismo
pode encontrar na franco-maçonaria. Em três mensagens
recebidas por médiuns diferentes, foi-lhe respondido que a doutrina espírita
pode perfeitamente vincular-se as das grandes lojas do Oriente, e vice-versa, exatamente porque o Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e caritativas da maçonaria, porque ele
sanciona as crenças por ela professadas, fornecendo provas insofismáveis da imortalidade da alma, e, afinal, porque ele conduz
a Humanidade ao mesmo
fim que ela (maçonaria) se propõe: a união, a paz,
a fraternidade universal, ela fé em Deus e no porvir (95).
Na verdade, as relações entre espíritas e maçons sempre foram as melhores possíveis, tanto assim que, em 1889, a abertura do Congresso Espírita e Espiritualista Internacional, em Paris, se deu precisamente no salão de festas do Grande Oriente da França, onde Jules Lermina foi empossado como presidente do mesmo Congresso.
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(91)
Andre Moreil, ob. cit., p. 95.
(92) Rene Le
Forestier: "La
Franc-Maçonnerie Templiere et Occultiste aux XVIII
e et XIX e siecles", publie
par Antoine Faivre (Aubier-Montaigne, Paris
vre, et Jl'lditions Nauwelaerts, Louvain),
1970, p. 277.
(93) Jean
Vartier, ob. cit.,
pp. 114 a 116 e 151.
(94) Id.,
ib., p. 35.
(95) "Revue Spirite",
1864, pp. 123/28.
Ao que nos consta, as referências aos maçons e à Maçonaria aparecem na obra de Kardec somente na Revista Espírita, na edição de abril de 1864. Foram três comunicações: a primeira, firmada pelo Espírito de Guttemberg; a segunda, por Jacques de Molé; a terceira, por Vaucanson.
Em todas elas são destacadas as afinidades existentes entre os princípios defendidos pela franco-maçonaria e os ensinamentos espíritas.
Na primeira, Guttemberg afirma que todo
maçom iniciado é levado a crer na imortalidade da alma e no Divino Arquiteto e
a ser benfeitor, devotado, sociável, digno e humilde. Ali se pratica a
igualdade na mais larga escala, havendo, pois, nessas sociedades uma afinidade
evidente com o Espiritismo. Lembrando que muitos maçons são espíritas e
trabalham muito na propaganda desta crença, Guttemberg previu que no futuro o
estudo espírita entraria como complemento nos estudos abertos realizados nas
lojas maçônicas.
Jacques de Molay, por vezes também chamado Tiago de Molay (1245-1314), foi um religioso e militar francês, e o último grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários.
Na segunda mensagem, Jacques de Molé
diz que as instituições maçônicas foram para a sociedade um encaminhamento à
felicidade. Numa época em que toda ideia liberal era considerada crime, os
homens precisavam de uma força que, submissa às leis, fosse emancipada por suas
crenças, suas instituições e a unidade de seu ensino. “Nessa época - diz Molé -
a religião ainda era, não mãe consoladora, mas força despótica que, pela voz de
seus ministros, ordenava, feria, fazia tudo curvar-se à sua vontade; era um
assunto de pavor para quem quisesse, como livre pensador, agir e dar aos homens
sofredores alguma coragem e ao infeliz algum consolo moral.” Concluindo,
Jacques de Molé profetiza: “O Espiritismo fez progressos, mas, no dia em que
tiver dado a mão à franco-maçonaria, todas as dificuldades estarão vencidas,
todo obstáculo retirado, a verdade estará esclarecida e o maior progresso moral
será realizado e terá transposto os primeiros degraus do trono, onde em breve
deverá reinar”.
Na terceira mensagem, o Espírito de Vaucanson, que se designa ainda franco-maçom, observa que Guttemberg foi contemporâneo do monge que inventou a pólvora – invenção essa que transformou a velha arte das batalhas –, enquanto a imprensa trouxe uma nova alavanca à expressão das ideias, emancipando as massas e permitindo o desenvolvimento intelectual dos indivíduos. A franco-maçonaria, contra a qual tanto gritaram, contra a qual a Igreja romana não teve anátemas em quantidade suficiente, e que nem por isso deixou de sobreviver, abriu de par em par as portas de seus templos ao culto emancipador da ideia. “Em seu seio - afirma Vaucanson - todas as questões mais sérias foram levantadas e, antes que o Espiritismo tivesse aparecido, os veneráveis e os grão-mestres sabiam e professavam que a alma é imortal e que os mundos visível e invisível se intercomunicam.” Segundo Vaucanson, o Espiritismo encontrará no seio das lojas maçônicas numerosa falange compacta de crentes, sérios, resolutos e inabaláveis na fé, porque o Espiritismo realiza todas as aspirações generosas e caridosas da franco-maçonaria; sanciona as crenças que esta professa, dando provas irrecusáveis da imortalidade da alma; e conduz a humanidade ao objetivo que se propõe: união, paz, fraternidade universal, pela fé em Deus e no futuro.
Percebe-se, à vista do conteúdo das mensagens acima, por que o clima entre o Espiritismo e a franco-maçonaria sempre foi cordial e – o mais importante – por que ambos foram, historicamente falando, as vítimas preferenciais das religiões dominantes, que nunca se conformaram com o progresso das ideias, a liberdade de crença e a emancipação de quem jamais se dobrou à sua vontade e aos seus dogmas.
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