A REVISTA QUE MUDOU OS RUMOS DO MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO


Temos a grata satisfação de trazer a público o exemplar da Revista A Reencarnação, órgão de divulgação da FERGS (Federação Espírita do Rio Grande do Sul) de julho de 1984, nº 400, ano XLIX.

A importância desta revista está registrada na obra Da Religião Espírita ao Laicismo, A trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre escrita por Salomão J. Benchaya, que assim descreve o decisivo papel nos rumos do movimento espírita gaúcho e posteriormente no Movimento Espírita Brasileiro:

“Em 1978, havia eclodido, em São Paulo, o movimento que veio a se denominar “espiritização”, liderado por Jaci Regis, em torno da chamada “questão religiosa”, tendo por veículo o jornal “Espiritismo e Unificação”, órgão oficial da UMES - União Municipal Espírita de Santos. Em junho de 1985, Krishnamurti de Carvalho Dias, desencarnado em 2001, lança seu livro “O Laço e o Culto”, questionando o caráter religioso do Espiritismo. Do “grupo de Santos”, como ficaram conhecidos os ideólogos desse movimento, alguns de seus membros atuavam na União Municipal Espírita de Santos. Em 1986, eles concorrem à presidência da USE-União das Sociedades Espíritas de São Paulo com a chapa Unificação, Hoje!, encabeçada por Henrique Diegues , mas perdem para a chapa Tríplice Aspecto, liderada por Nedyr Mendes da Rocha. No ano seguinte, em decorrência da forte pressão de um grupo minoritário, os não-religiosos decidem renunciar à direção da UMES, para a qual tinham sido reeleitos por expressiva margem de votos, e fundam o jornal “Abertura”.
Em janeiro/86, no discurso de posse do meu segundo mandato presidencial na FERGS, lancei o Projeto: Kardequizar, contendo uma análise crítica do movimento espírita, alertando para o processo de sectarização em curso e convocando as forças vivas do movimento espírita gaúcho a um esforço de reversão dos desvios apontados.
Milton Medran Moreira era Diretor de Difusão da FERGS e da revista “A Reencarnação”, cuja linha editorial buscava o aprofundamento de um determinado tema em cada uma de suas edições. Naquele momento, era examinado o chamado “tríplice aspecto” a partir, principalmente, do estudo mais acurado do pensamento de Kardec, pela Revista Espírita. Já havia sido editado um número tratando especificamente do caráter científico do espiritismo e outro sobre o seu caráter filosófico. Finalmente, exatamente na época do furacão que o tema provocava em São Paulo, lançamos o número 402, em outubro/86, sob o título Espiritismo: Ciência e Filosofia. Até que ponto é Religião?
Sobre as consequências desse lançamento, transcrevo trecho de um depoimento feito por Milton Medran em “e-mail” endereçado a um confrade do Rio de Janeiro: “Como na época, nós da FERGS (leia-se aquele núcleo da SELC, que a dirigia), estávamos balançando diante das novas interpretações que vinham de São Paulo, resolvemos questionar o assunto, na revista. Isto é: a edição não diria que o espiritismo era ou não religioso. Submeteria o tema à discussão. O título de capa da revista foi “Espiritismo: Ciência e Filosofia. Até que ponto é Religião?”. A bem da verdade nenhum dos articulistas dessa histórica edição da “Reencarnação” ousou afirmar que o espiritismo não era uma religião. Tampouco eu que, na época, escrevi uma matéria sob o título de “Espiritismo e síntese”, admitindo que Kardec teria afirmado não ser o espiritismo uma religião, mas trabalhando mais com a idéia de síntese que o espiritismo buscaria entre ciência e religião e tentando minimizar o conflito que os vocábulos poderiam suscitar. Um artigo “light”, como os demais. Na verdade, só tinha uma matéria contida naquela revista que afirmava categoricamente que o espiritismo não era uma religião: uma antologia do pensamento de Kardec7 que o Jones organizou, sem fazer em cima dela nenhum comentário, estampada na revista reproduzindo as frases de Kardec retiradas, principalmente, de seus discursos e de seus artigos na Revista Espírita. Mas, o fato de ousarmos questionar se o Espiritismo era ou não uma religião (mesmo que o fizéssemos escudados em Kardec) nos custou muito caro. O Salomão, que era presidente da FERGS, foi advertido publicamente por Francisco Thiesen, presidente da FEB, numa reunião em Curitiba, que lhe disse textualmente: “a uma federativa não cabe trazer assuntos para debate, cabe apenas orientar o movimento”.”
Em razão disso, o grupo dirigente da FERGS, na eleição seguinte, não mais foi conduzido ao comando federativo. A chapa que concorreria nas eleições levadas a efeito no final de 1987, encabeçada por Milton Medran, foi derrotada após uma forte reação das lideranças do espiritismo gaúcho, apoiadas pela FEB e por destacadas personalidades do movimento. Dentre os argumentos empregados na campanha que precedeu a eleição, destacaram-se os de que queríamos “retirar Jesus do Espiritismo”, “enterrar o Evangelho”, que éramos “obsediados a serviço das trevas”.
Nesse ano, encerra-se a presença da SELC na FERGS.”

Sugestão da leitura completa da obra:
Da Religião Espírita ao Laicismo, A trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, págs. 39 e 40. Autoria de Salomão J. Benchaya.
Download: http://bvespirita.com/Da%20Religi%C3%A3o%20Esp%C3%ADrita%20ao%20Laicismo%20(Salom%C3%A3o%20J.%20Benchaya).pdf

Notas:
1. Esta edição original da Revista Reencarnação foi cedida gentilmente por Orlando Borges dos Santos, ex-presidente da histórica União Espírita Cearense, para a digitalização em PDF e colocá-la a disposição da publicação no site da USEECE.
2. Leitura do texto de Maurice Jones - O que é o Espiritismo - textos de Allan Kardec na página do site OPINIÃO: http://ccepa-opiniao.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-11-10T15:26:00-02:00&max-results=15

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