O DIA DOS MORTOS E AS TRADIÇÕES GAULESAS
Monumento em forma de dólmen druida em homenagem a Allan Kardec - Cemitério Père-Lachaise - Paris, França. Inaugurado em 31 de março de 1870.
É dos Gauleses que nos vem a
comemoração dos mortos, esta festa de 2 de Novembro que caracteriza o nosso
povo entre todos. Apenas, em vez de celebrá-la como nós nos campos fúnebres,
entre os túmulos, era no lar doméstico que recordavam as lembranças dos amigos
distantes, mas não perdidos, que evocavam a memória dos espíritos amados que,
por vezes, se manifestavam por intermédio das mulheres Druidas e dos Bardos
inspirados.
Dolmen de Gallardet na França
Henri Martin, na sua História da
França, volume I, página 71, exprime-se assim: “Tudo o que se refere à doutrina
da morte e da renovação periódica do mundo e de todos os seres parece estar
concentrado na crença e nos ritos do 1° de Novembro. Noite cheia de mistérios
que o Druidismo legou ao Cristianismo e que o dobre dos mortos anuncia ainda
hoje a todos os povos católicos esquecidos das origens desta antiga
comemoração.
O Dia da Morte, pintura de William-Adolphe Bouguereau
Cada uma das grandes regiões do mundo gaulês tinha um centro ou
meio sagrado ao qual pertenciam todas as partes do território confederado.
Neste centro ardia um fogo perpétuo que se denominava o fogo pai.
Na noite do
1° de Novembro, segundo as tradições irlandesas, os Druidas reuniam-se em redor
do fogo pai guardado por um pontífice ferreiro e apagavam-no. A este sinal, de
próximo em próximo, apagavam-se todos os fogos; por toda a parte reinava um
silêncio de morte, a natureza inteira parecia mergulhada numa noite primitiva.
De repente o fogo saltava outra vez sobre a montanha santa e gritos de alegria
eclodiam de todos os lados. A chama tomada ao fogo pai corria de lar em lar de
uma extremidade à outra e reanimava por toda a parte a vida."
As pedras de Carnac são uma coleção excepcionalmente densa de megalíticos sites ao redor da aldeia de Carnac, na Bretanha
À questão do culto dos mortos
entre os Celtas, liga-se a recordação de Carnac com os seus monumentos
megalíticos. Todos os celtas conhecem esta imensa nécropole que se estendia por
várias milhas de comprimento desde lockmariaker até Erdeven.
Os alinhamentos de
menires, hoje em parte destruídos, contavam ainda milhares de pedras erguidas
na Idade Média. É preciso ver estas longas filas sombrias como monumentos
funerários? Colocou-se em dúvida, porque, nas escavações realizadas junto aos
menires, foram encontrados raros fósseis humanos. O espírito de Allan Kardec
assegura-nos que escavando mais profundamente ter-se-iam encontrado muito mais
ossos. As cavernas sepulcrais de Lockmariaker, os dólmens de Erdeven e outros
lugares, não deixam nenhuma dúvida sobre o destino deste vasto campo fúnebre.
Os menires eram tanto túmulos de chefes políticos como religiosos, enquanto que
as cavernas e os dólmens recebiam os restos de personagens menos elevadas na
ordem social.
Os megalíticos Locmariaquer são um complexo de
construções neolíticas em Locmariaquer, França. Eles compreendem túmulos e sepulturas e um dólmen
conhecido como o Table des Marchand "O Menir quebrada de Er
Grah", o maior bloco único conhecido de pedra transportada e erguido pelo
homem do Neolítico.
(...) Qual era então o pensamento
dominante que agrupava todos estes mortos na extremidade do continente? Muitos
escritores procuraram discerni-lo sem êxito. Contudo a explicação parece ser a
seguinte: Perante os horizontes infinitos do mar e do céu, acreditava-se que o
voo das almas era mais fácil para estes mundos que brilham lá no alto, no seio
das noites, ou então para os que se esbatem ao largo à noite nas brumas do
anoitecer; estas praias varridas pelas ondas, estas fronteiras de um vasto
desconhecido tinham para os nossos antepassados um carácter misterioso e
sagrado.
Celtic Woman - You Raise Me Up
Nestas sepulturas: dólmens,
cavernas funerárias e túmulos de todas as dimensões, encontram-se objetos
diversos misturados a restos humanos calcinados ou a esqueletos inteiros. São
sílex brutos ou polidos, urnas, armas e até foices de ouro servindo para o
culto. Estes objetos pertencem pois a todas as épocas desde os tempos mais
recuados: paleolíticos, neolíticos, idades do bronze e do ferro. (...) Os
megálitos não consistem somente em sepulturas, mas também em monumentos
consagrados ao culto. Os mais importantes são os (...) círculos de pedras no
centro dos quais se erguia geralmente um grande menir. Alguns são duplos e
triplos e representam então os três círculos da vida universal de acordo com a
indicação das Tríades. Nestes recintos, praticavam-se os ritos divinos e
evocavam-se as almas dos defuntos. Entre estas pedras, algumas desempenhavam o
mesmo papel que as mesas falantes dos nossos dias e respondiam pelos seus
movimentos às perguntas dos assistentes. Assim, o Manual para servir ao estudo
da antiguidade céltica, fala da pedra falante (...) que dava as respostas como
a lech lavar dos gauleses. Acrescentemos para memória que os autores antigos atribuíam
aos Druidas um poder mágico completamente perdido hoje em dia e cujo vestígio
se encontra apenas nas práticas do hipnotismo, do magnetismo e do faquirismo.
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Plínio chamava os Druidas os
Magi, nome que constantemente lhes é dado nos textos latinos e irlandeses, diz
Dom Gougaud, beneditino inglês, no seu livro as Cristandades célticas[1]. De
acordo com este autor, os Druidas gozavam dos poderes seguintes: “condensações
de nevoeiro, precipitações atmosféricas, tempestades no mar e sobre a terra,
etc.». Acrescenta que “o druida Fraechan Mac Tenuisain protegeu o exército do
rei da Irlanda, Diarmait Mac Cerbaill, contra o inimigo por uma barreira mágica
(airbe druad) que traçou à frente dela. Todos os que cruzavam esta muralha
fluídica eram feridos de morte. Todos os antigos textos irlandeses estão
recheados de fatos semelhantes”.
[1] Gabalda, edit., Paris.
Quase sempre, os círculos de
pedras dos quais acabamos de falar eram dispostos nas clareiras das florestas,
porque, em matéria religiosa, a floresta mantém sempre para os Celtas o seu
prestígio augusto e sagrado. Na época druídica a natureza ainda não estava
alterada pela influência nociva, pela corrente destrutiva das paixões. Ela era
como o grande médium, o intermediário poderoso entre o céu e a terra.
Os
Druidas, sob a abóbada das árvores seculares, cujos cimos funcionavam como
antenas que atraíam as radiações do espaço, recebiam mais facilmente as
intuições, as inspirações, os ensinamentos do alto. Ainda hoje, apesar de
tantas devastações sofridas, a floresta não nos oferta uma impressão salutar e
reconfortante pelos seus eflúvios, uma espécie de dilatação da alma? É pelo
menos o que eu próprio experimentei tantas vezes. Certas pessoas, privadas de
faculdades mediúnicas, interrogam-me às vezes como preparar-se para entrar em
contato com o invisível. A esta pergunta, respondo: “Afastem-se do barulho das
cidades, embrenhem-se na floresta, é na solidão dos grandes bosques que melhor
se julga a vaidade das coisas humanas e a loucura das paixões. Nestas horas de
recolhimento, parece que um diálogo interno se estabelece entre a alma humana e
os poderes do Além. Todas as vozes da natureza se unem, os murmúrios que a
terra e o espaço ciciam à orelha atenta, tudo nos fala das coisas divinas, nos ilumina
com os conselhos da sabedoria e nos ensina o dever. Era o que dizia Joana D'Arc aos seus interrogadores de Rouen que lhe perguntavam se ela ouvia sempre as
suas vozes: “O barulho das prisões impede-me de o perceber, mas se me
conduzissem a qualquer floresta eu os ouviria bem.» Passa-se o mesmo com a
ciência dos mundos; é uma fonte incomparável de elevação, porque ela revela-nos
todo o gênio do Criador.
No meio dos recintos sagrados, os Druidas
entregavam-se a observações atentas e neste intento possuíam meios que faziam a
admiração dos antigos. É verdade que o desfile imponente dos astros durante as
noites claras de inverno é um dos espetáculos mais impressionantes que a alma
pode fruir. Uma paz serena desce dos espaços, sentimo-nos como num templo
imenso, o pensamento eleva-se então num impulso mais rápido para estas regiões
superiores, interroga estes milhares de mundos, parece-lhe que as suas subtis
radiações respondem aos seus apelos. A aplicação das forças radiantes aos usos
terrestres permite crer que uma transmissão, mesma física, não é impossível
através dos abismos do espaço. As vias do destino que nos são abertas
vinculam-nos estreitamente a este esplêndido universo do qual nós somos como
espíritos um elemento imperecível, o seu futuro é o nosso, prosseguiremos com
ele e nele está a nossa evolução, participaremos na sua obra, na sua vida, numa
medida sempre engrandecedora.
Trecho selecionado da obra de LÉON DENIS “O GÊNIO CÉLTICO E O MUNDO INVISÍVEL”, SEGUNDA PARTE – O DRUIDISMO, IX – A RELIGIÃO DOS CELTAS, O CULTO, OS SACRIFÍCIOS, A IDEIA DA MORTE.
Download (baixar a obra)
FONTES IMAGENS:
http://www.megaliths.net/france.htm
http://www.snipview.com/q/Megalithic_monuments_in_Brittany
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